quinta-feira, 9 de abril de 2009

Conceitos: A curva-S e seu valor para o gestor

A curva-S nasce e seu posterior desenvolvimento através dos trabalhos de difusão da inovação de Everertt Rogers (Diffusion of Innovations, Glencoe: Free Press - 1962). Entre as maiores contribuições conceituais sobre inovação a curva-S é uma das mais geniais que temos a disposição. A minha percepção que sua base é consistente e valiosa no mundo prático da gestão estratégica da inovação. Richard Foster da Mckinsey tratou o conceito com maestria no livro "Inovação: A vantagem do Atacante, Editora Best Seller" (1986) mesmo sendo um livro dos 80 é valiosa a sua leitura. Ultimamente Foster e Sarah Kaplan escreveram mais sobre o assunto e muitas outras descobertas e soluções no livro "Destruição Criativa, Editora Campus" (2006).

O conceito da curva-S surge de um modelo matemático que foi aplicado para uma série de disciplinas como física, economia, ciências sociais e biologia. O instrumento essencialmente é a descrição do comportamento de uma tecnologia desde sua introdução, crescimento e maturidade.

Seguindo esta linha de pensamento a curva-S é um instrumento conceitual valioso para entender o ciclo de vida de uma inovação que utiliza dois parâmetros representando graficamente a sua relação. Um deles no eixo da ordenada que representa o desempenho relativo alcançado pela tecnologia em função do esforço no eixo da abscissa (dinheiro, tempo, homem hora, etc.) aplicado para melhorar o desempenho de determinada tecnologia. Antes é importante primeiro entender o que é tecnologia. Uma forma que gosto pela simplicidade é a equação da tecnologia,

Tecnologia = artefato + conhecimento + habilidade

Para exemplificar, um computador do ponto de vista da tecnologia não é somente um artefato ou o conjunto de artefatos, visto que para obter a utilidade do computador é necessário construir uma base de conhecimentos e habilidades também. Isto pode esclarecer que tecnologia não é o mesmo que produto.

Agora podemos descrever melhor a curva-S, esta tem um formato de um S espichado como mostra a figura abaixo.

Observando a parte inferior esquerda do gráfico na fase da introdução, a resposta aos investimentos é lenta, ou seja, para pequenas melhorias o esforço é grande. Na seqüência, acontece que em um determinado ponto o domínio da tecnologia gera maior capacidade de melhoria, apresentando uma violenta aceleração na curva (esta é a fase de crescimento). No final os investimentos continuam mais a melhoria de desempenho não acontece na mesma velocidade. Esta é a fase da maturidade que é o encontro com os limites da tecnologia. Nesta fase o gestor deve encarar a mudança ou assumir as conseqüências da inovação.

“Tudo o que fazemos é governado por limites como não podemos ultrapassá-los, ao nos aproximarmos deles devemos mudar, ou não progrediremos mais.” (Richard Foster, 1986).

Sejam inovações radicais ou incrementais estas sempre alcançam um limite no seu desempenho e este é um dos aspectos fundamentais por traz da curva-S. Todas as fases da curva são importantes para o gestor estratégico da inovação. Do ponto de vista do pensamento estratégico, o monitoramento da fase da maturidade deve ser encarada como crítica. Visto que esta abre as reais janelas de oportunidades para os rivais que estão criando uma nova proposta de valor através de uma tecnologia e mesmo um novo modelo de negócio com potencial de ser o substituto.

O mercado identifica estas oportunidades de criação de valor de forma mais eficaz e dramática. O capital simplesmente abandona o menos eficiente e muda para uma nova curva substituta que se apresenta com um futuro mais promissor. Estes substitutos normalmente dominam novas tecnologias e propõem soluções inovadoras através de uma nova proposta de valor que realiza a tarefa que os clientes desejam contratar com maior valor percebido. Esta transição é conhecida como a descontinuidade. Em sentido contrário existe o pensamento da continuidade demonstrada por gestores empresariais com uma característica em seus modelos mentais, de que amanhã será parecido com hoje. Conduzindo-os a obstinadamente insistir em melhorar e alocar recursos para aprimorar tecnologias que alcançaram ou estão alcançando seu limite físico.



7 comentários:

  1. Muito bom o artigo!!
    Parabens!

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  2. José Carlos Lázaro15 de julho de 2010 às 17:04

    Interssante,
    parabéns pela iniciativa de publicar

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  3. Não entendi o que quer dizer com isso tudo...

    Qual é a moral da história?

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  4. Mr. ou Ms. Anônimo: A curva S é um instrumento de gestão da inovação. Serve para acompanhar a evolução das tecnologias dominantes. Cada vez que uma melhoria da tecnologia surge a curva muda. Porém, entender quando os limites são ou estão para ser atingidos e novas tecnologias substitutas nascem e avançam são eventos ou sinais de ameaça e de oportunidade. É aqui que deve ser considerada seriamente no processo de gestão estratégia e da inovação do negócio. É isso amigo.

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  5. Parabéns pelo artigo.
    Estou cursando pós e tenho uma cadeira ligada inovação; inovação e sustentabilidade, tenho uma pergunta mestre=):
    No material do meu profº ele comenta que "A leitura da evolução a longo prazo é dificultada pelas disrupções. Haverá padrões que podem ajudar como, a Curva S e U-A".
    Pergunta: Há diferença entre disrupção e descontinuidade?~
    Pq é dificultada pelas disrupções?
    O que é inovação disruptiva?
    O que são ciclos U.A?
    Perdão pelo bombardeio de perguntas, mas você é bom para explicar =).
    Obrigada e Sucesso!!
    Caroline

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    1. Caroline,

      Clayton Christentesen começa a desenvolver sua teoria de disrupção através dos conceitos da curva-S, veja seus trabalhos:
      Christensen, Clayton M. "Exploring the Limits of the Technology S-Curve."Production and Operations Management 1, no. 4 (Fall 1992): 334-366.
      Este é um paper que escreveu no ano que recebe o grau de DBA em Harvard e seguem uma série de trabalho entre estes até lançar o livro que o tornou famoso.

      Christensen, Clayton M. "The Innovator's Challenge: Understanding the Influence of Market Environment on Processes of Technology Development in the Rigid Disk Drive Industry." Thesis (D.B.A.), Harvard University, Graduate School of Business Administration, 1992.
      Bower, Joseph L. and Clayton M. Christensen. "Disruptive Technologies: Catching the Wave." Harvard Business Review 73, no.1 (January 1995): 43-53.
      Christensen, Clayton M. The Innovator's Dilemma: When New Technologies Cause Great Firms to Fail. Boston: Harvard Business School Press, c1997.

      O conceito por traz da curva S, curva de difusão e das descontinuidades tem uma relação forte com as teorias de disrupção. A diferença está em que a teoria da disrupção trata as questões da descontinuidade de forma relativa e os efeitos sobre a competição como ensinado por Michael Porter, mais conhecido como o modelo das cinco forças de Porter, além da própria rivalidade no mercado, conceitos como o poder do consumidor e dos fornecedores, novos entrantes e substitutos são utilizados no modelo.

      O que Christensen descreve nas suas teorias é: com o surgimento de uma nova tecnologia (negócio que traz uma nova tecnologia de natureza disruptiva e substituta) ou uma nova curva S. No início da sua evolução não são (ou eram) notadas ou mesmo são inesperadas pelo mercado e menos pelos titulares (empresas dominantes). A natureza destas tecnologias e sua respectiva curva S em formação é baseada em um novo conceito, especialmente por ser mais barato ou mais conveniente ou mais simples, porém quando surge seu desempenho é muito abaixo ao das tecnologias dominadas pelos titulares que não se sentem ameaçados por estas. Os disruptores basicamente atacam as camadas do mercado (nichos) ou mesmo criam novos mercados que os titulares não consideram como mercado chave. À medida que a nova curva-S gerada toma forma, esta configura uma nova base competitiva e se torna cada vez mais forte e entra no jogo para substituir definitivamente os titulares. Neste caso a nova curva S criada toma o lugar tornando-se o novo titular.

      Pode ajudar e agregar mais esta apresentação e artigos:

      http://www.slideshare.net/djadja/innovation-s-curve-disruptive-m-m-biztel-01-jul0997-03

      http://blog.shoretel.com/2011/08/evolution-of-an-s-curve/

      Com relação aos padrões, Christensen escreveu um livro para ajudar a identificá-los, Seeing What's Next (2004). Inteligência competitiva de tecnologias disruptivas.

      Os ciclos U-A devem ser entendidos dentro do ponto de vista das diferenças temporais da evolução da inovação do produto e do processo. Veja o caso dos tablets que atualmente são considerados os novos PC, os seus ancestrais conhecidos como PDA, neste caso o Newton (fracasso da Apple em 1993) trouxe o conceito mesmo radical mas não conseguiu ganhar popularidade (problemas de desempenho, expectativa e difusão). No mundo dos PDA este round foi ganho pela Palm até que uma nova curva foi criada pela Apple. Depois de quase uma década e meia o iPhone e iPad se convertem no design dominante de uma inovação de produto que todos hoje copiam. Agora as inovações de processo avançam tornando o produto melhor, +leve, +fino e de menor custo e é claro também +lucrativo. Os tablets rapidamente avançam e se tornam a descontinuidade do PC também. A Apple agora depende mais do design e branding. Se houver um acompanhamento na evolução da inovações que formam as curvas do produto e dos processos, estas no tempo configuram também uma curva-S, que avançam em desempenho até chegar a seus limites.

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