segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Negócio da China

Fazem quase 5 anos ou mais numa viagem de Floripa para Curitiba conversando no carro com o colega de viajem sobre qual seria um grande negócio, mas tinha que ser fácil e rápido. Nesse instante eu pensei e coloquei minha cabeça a funcionar e idealizei o negócio da China, literalmente da China!. Imaginei criar um produto de relativa utilidade com proteção de patente global, com custo unitário para fabricar, distribuir e promover de U$ 0,35 no máximo, com atributos que fazem com que todo chinês deseje ter um e que aceitariam pagar U$ 1,50 por ele. O produto deverá ter um ciclo de vida de pelo menos o tempo da patente. Esta idéia do negócio da china se espalhou e muitos na minha rede de contatos de vez em quando me contam a idéia e a recebo como um eco de meus insights de criatividade, que não me deu nenhum centavo, somente muito boas lembranças. É sabido pela maioria que idéias boas viram inovação quando criam e capturam valor, senão são somente idéias. Criatividade e inovação são interdependentes, mais não são a mesma coisa.
É claro que tem outros negócios que seriam considerados da china, por exemplo possuir uma rede de cartórios no Brasil. Pessoal, pelo menos um cartório completo em Brasilia serve. O modelo de receitas é fantástico, dinheiro fácil é somente dar uma olhada, carimbar e assinar.
Ao assistir o filme "A Rede Social", parece que idéias criativas tem valor, mais não tanto assim. Mark Zuckerberg criador do Facebook, no filme mostra claramente que o processo para alcançar um negócio da china precisa não somente de boas idéias, mas de acreditar no negócio que desde o começo possuia uma proposta de valor convincente, ter uma visão estratégica com um modelo de negócio consistente, muito trabalho e é claro uma competência superior, é o que se percebe que somente Mark mostrou ter desde o início.

Algumas empresas conseguiram surpreender com algumas inovações do tipo negócio da china. Como exemplo temos o mercado das crianças com envergadura global. Sempre me vem à mente o Digimon, Tamagochis, PoweRanger, Ben 10, etc. Muitos deles ligados a um cadeia de valor multidimensional de franquias cheias de TradeMarks, produtos, serviços e muitas outras fontes de receitas. Estes modelos de negócio são impressionantes na sua fórmula de lucro. Não se enganem que este setor é bilionário, somente como referencial o mercado de brinquedos tem um tamanho respeitável de U$ 78 bi (em 2009) por isso deve ser levado muito a sério. Lembro no curso de projeto de produto o grande professor Nelson Back dizia, "pessoal não subestimem o mercado de brinquedos, .... é maior que muitos setores, alias maior que o setor de máquinas ferramentas", esta mensagem é emblemática para um engenheiro mecânico, para nos sempre foi um setor de máquinas ferramentas grande e importante. Alias para os curiosos o tamanho do mercado de máquinas ferramentas está em torno de U$65 bi (dados de 2009).

Na realidade o negócio da china que todos desejam criar é relativamente fácil quando se possui é claro uma criatividade "fantástica" orientada a necessidades não atendidas ou mal atendidas ou mesmo de mercados escondidos pelo não consumo. Não podemos esquecer que é preciso possuir os recursos ($$ e humanos) para criar um negócio da china. Todos dizem que recursos existem (os capitalistas e headhunters estão para isso), então o problema real é a criatividade? será mesmo?. O que talvez está faltando é uma criatividade orientada a solucionar os problemas certos. Este ponto pode ser visto de outra maneira, hoje existe uma grande produção criativa ou muita gente criativa, porém com muito baixa produtividade de acerto, mesmo assim ela existe. O que acontece é que a criatividade está solucionando problemas que o cliente não precisa ou não resolve os seus problemas prioritários. Os clientes precisam de um produto ou serviço que de conta de uma tarefa que este deseja realizar. A grande questão está em que "as pessoas não sentem a necessidade de uma furadeira com broca de 1/2 polegada, senão o que ele precisa é fazer um furo de 1/2 polegada". É necessário parar de adivinhar ou obter a informação que cria produtos que não colam.

Para mim o principal problema não é de falta de criatividade, existe um terceiro elemento e eu chamo de falta de capacidade de colar. Precisamos colar criação com o capital ($$ + Humano), muitos empreendedores ou empresas não conseguem realizar suas projetos de inovação pela falta de colar capital e criadores. Também é a falta de cola entre a criação e as necessidades do mercado não atendidas, mal atendidas ou de não consumo.
Como muitos sabem um elemento catalisador muito usual e que possibilita a cola é a presença do espírito e o líder empreendedor na empresa. Porém este espírito e líder empreendedor não deve ser considerado como a panacéia para a enfrentar o desafio da inovação. A maioria dos investidores da Apple estão preocupados com a saída de Steve Jobs e isso é um fato. Quando o falecido Akio Morita não fazia mais parte da Sony a empresa parou de inovar radicalmente e isso também é um fato. Esta dependência em alguns casos é boa, mais não é boa para o mercado que implacavelmente fará o que sempre fez, migrar de um modelo de negócio obsoleto para outro mais atrativo.
Outra alternativa é a abordagem que seria gerenciar a inovação através de métodos e processo para garantir a colagem e torná-la uma atividade consistente. Na minha opinião 3M e Procter & Gamble conseguiram criar um sistema operacional que faz o trabalho de colar os elementos e consegue assim alta produtividade de inovação. Para isto compreender as teorias por traz dos fenômenos e padrões da inovação é obrigatório. Também se deve ganhar competência nos métodos e ferramentas de como proceder na busca das oportunidades de inovação, como também estabelecer soluções baseadas em necessidades e ter um sistema de gestão da inovação que amplie a capacidade de fazer acontecer a inovação sistematicamente.

Os negócios da china estão esperando por alguém com a habilidade de colar os elementos. As mudanças estão acontecendo junto com a compressão do tempo e aceleração nos avanços tecnológicos, inventos e descobertas que torna o processo paralisante para alguns e para outros se abrem grandes janelas de oportunidades. Lembremos sempre que janelas se abrem e fecham todos os dias e tem padrões e tempos de abertura.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Criatividade e Inovação de alto nível, bem brasileiro

Nesta semana assisti a alguns programas de TV que mostram como o talento e a capacidade criativa podem fazer coisas surpreendentes e resultar em inovações de valor superior. Assisti a entrevista da carioca Deborah Colker e assisti alguns trechos de sua criação OVO no Cirque du Soleil que é reconhecido em todo o mundo como uma das empresas mais inovadoras e criativas existentes hoje. Também tive a sorte de assistir o programa do Mundo SA da globosat, que apresentou a empresa Super Uber, que vive surpreendendo os clientes com inovações com um mix surpreendente de tecnologia digital, arquitetura, design e cenários de alta criatividade.

Revisando minhas memórias, em 2007 assisti a apresentação da embaixadora e presidente e diretora de operações da divisão de conteúdo criativo do Cirque du Soleil, Lyn Heward. Nessa oportunidade ficou claro para mim que o Cirque du Solei é uma empresa que gerencia o negócio focada em encantar o público com algo que nunca se fez, focada em talentos que precisam explorar a sua capacidade sensitiva e intuitiva, criatividade em grupo, mantem um ambiente estimulante onde as pessoas tem como metas restrições, desafios, diferenças e as expectativas do cliente tornando-os catalisadores criativos, que devem ter coragem e por isso correm riscos e atuam com o modelo mental da melhoria contínua de forma a manter o frescor do produto e a equipe, a exemplo o espetáculo OVO foi projetado para ficar em cartaz por 15 anos no mínimo!.
Deborah impressiona pela sua presença simples e ao mesmo tempo mostra claramente domínio do que faz. Alguns trechos de sua entrevista com Gabi que chamam a atenção:

A renomada coreógrafa justifica: “talvez eu tenha começado de uma maneira estranha. Eu fui subverter certas ordens. Eu subverti ordens criando outra rotina. Isso estranha. Acho que ninguém conseguia me encaixar”.

Ela confessa que até hoje tem medo do resultado de seu trabalho. “Toda vez que eu mudo um espetáculo eu penso: ‘meu Deus, será que o público vêm?’ E vem! Eu adoro o público!”. E ainda dá um conselho aos jovens que querem seguir esta carreira: “acredito que ele tem que entender que quanto mais o corpo estiver tecnicamente preparado, ele estará livre. A técnica é um instrumento fundamental para a liberdade criativa”.




O pensamento entre as pessoas criativas é a mesma, talento nato é importante mais não é tudo. Rebuscando artigos achei o registro de uma entrevista da revista Harvard Business Review com Twyla Tharp artista e coreógrafa super premiada, onde argumenta sobre seu livro ´The Creative Habit´, do qual é questionada sobre a criatividade que é tratada de modo muito pragmático, quase como algo profissional. Tharp responde dizendo:

Acho que "hábito" tira um pouco a graça da coisa. O que realmente discuto no livro é o prazer da criatividade, algo que qualquer pessoa pode ter..... Qualquer um pode ser criativo, na minha opinião, mas é preciso se preparar para isso com uma rotina. Não há outra maneira. É absolutamente errado achar que a arte não é a prática - ou que a gestão não possa ser criativa.... A melhor criatividade é resultado do hábito e do esforço. E da sorte, é claro.

É sabido que os fatores que cultivam a criatividade são vários, porém sem a prática e exercício da criatividade será difícil a inovação sistemática. Idéias criativas surgem freqüentemente, mas o trabalho duro é a grande diferença durante o processo de inovação, como Thomas Edison já dizia que o segredo está em "1% de inspiração e 99% de transpiração".

Super Uber é a expressão e o fato que a inovação é um processo (sistemático), criativo e multidisciplinar baseado em pessoas. Onde os fatores chave são um ambiente de trabalho orientado à inovação, gestão bem sucedida de talentos e o trabalho em equipe. Não podemos negar que uma liderança-empreendedora que quebra paradigmas é fundamental para fazer acontecer. No caso da SU que funde arte e tecnologia é uma boa receita para as empresas que buscam a inovação como fórmula de crescimento. Quando estudamos o case do Cirque du Soleil percebemos que a fórmula não é nada diferente. O vídeo abaixo mostra os trabalhos da Super Uber e a entrevista com os fundadores desta pequena empresa em expansão. Vejo um futuro magnífico para esta empresa de inovação super.