Ao analisar os cenários no
setor da educação superior notei vários sinais de inovações surgindo no
horizonte. Porém entre os cenários percebi algo que chamou a minha atenção, são
as iniciativas e propostas revolucionárias feitas por algumas universidades
dos Estados Unidos e entre as mais prestigiadas do mundo. Entre estas temos e que se destacam Stanford, MIT e Harvard. Estas universidades pretendem liderar a
disrupção do sistema de educação como o conhecemos por meio de novos modelos. O
interessante é que estas estão criando um futuro de certa forma inesperado,
tornando-se disruptores de seus próprios modelos de negócio seguindo o
postulado, inove ou morra.
Não sou o único a ver estes sinais,
ficou obvio quando li o post de Augusto Franco sobre MULTIVERSIDADE, percebi
que a coisa estava crescendo em evidência quando escreveu o seguinte: "Pierre Levy (2010) tuitou recentemente que as
universidades não têm mais o monopólio do conhecimento, apenas do diploma. É
difícil discordar da sentença. Cabe
agora ver por quê. E o quê surgirá no lugar dessas instituições medievais
que remanescem na contemporaneidade"
Analisando a afirmativa de Levy e respondendo
ao questionamento de Augusto Franco, dois casos se tornam símbolos e despertam
um insight e ao mesmo tempo é parte da resposta.
Primeiro, a Universidade de Stanford deu o
ponta pé na disputa colocando cursos online através da stanfordengineering everywhere. O programa inicia com o curso pioneiro “Introdução
à Inteligência Artificial” ofertado entre Outubro a Dezembro de 2010, Sebastian
Thrun foi. o professor. O curso atraiu mais de 160.000 pessoas de mais de
190 países. Os cursos são oferecidos online e free com certificado na conclusão do curso e
semelhante ao dado na própria Stanford no presencial. Somente para fazer uma
pequena comparação, usando dados Wikipedia, Stanford tem um pouco mais de
15.000 alunos matriculados e a USP tem aproximadamente 73.000 alunos, se alguém tem dúvidas com a escalabilidade das iniciativas. Thrun
depois fundou com outros super Stanford nerds a AUDICITY, que oferece cursos
online também no mesmo formato.
Um segundo caso surge no leste dos Estados
Unidos. Há algum tempo venho acompanhando as propostas e contribuição do MIT no
movimento de democratizar o que acumulou de conhecimento. Um exemplo de sua
contribuição do MIT é a disponibilização dos seus materiais didáticos (mitopencourceware) mesmo em diferentes
idiomas (entre estes tem vários em versão em português).
Mas o MIT foi mais fundo neste processo, ultimamente
um projeto audacioso afetará ainda mais as regras do jogo, e é realmente uma
dessas inovações disruptivas "super killers" e radicalmente provocantes para os
defensores da manutenção do status quo das universidades. Nos últimos meses
aconteceu a criação da not-for-profit Joint Venture entre MIT
e Harvard, com a marca EdX. O programa se baseia na iniciativa de educação
online do MIT lançado em 2010 com provas e direito a um certificado. São U$ 30
milhões de cada lado para começar.
O projeto EdX traz como ideia principal disponibilizar
estruturas de conhecimento na nuvem, na forma de objetos digitais com
conteúdo multimídia do seu portfólio de disciplinas presenciais. O portal EdX
oferecerá cursos online tal qual são oferecidos no formato presencial pelas
duas instituições, porém online. Seu conteúdo será disponibilizado em várias
mídias, como gravações em vídeos das aulas presenciais, aulas virtuais como as
que Sal Khan popularizou na web, material didático – (material pedagógico,
mesmo o livro texto da disciplina, etc), e o principal de tudo será free.
O terceiro ato é o COURSERA, resultado da
união entre as famosas Princeton, Michigan, Pennsylvania e Stanford que seguem o
mesmo caminho na oferta on line de cursos de alto nível. Parece que a coisa está ficando cada dia que passa cria forma.
O modelo das universidades com origem dos
anos de 1.088 A.D. e aquilo que entendemos o que é uma universidade hoje,
deverá sofrer mudanças profundas nos próximos 10 a 15 anos. Estas joint ventures efetivadas pelas mais
prestigiadas universidade do mundo pode gerar grandes efeitos no sistema
educacional mundial. Não é pouca coisa, somente a meta da EdX tem enfoque
global e meta para atingir uma população de 1 bilhão de pessoas, pensemos
um pouco, são somente duas universidades servindo 1/7 da população
mundial. Não é somente mais um projeto é uma inovação de alto impacto e um insight de algo que poderá mudar todos os
conceitos de educação superior como a conhecemos.
Temos ouvido falar muito de ensino a
distância (EAD) e seus benefícios, mas esta proposta de valor e modelo de
negócio, especialmente, traz componentes de diferenciação nunca vistos antes.
Especialmente pela contínua melhoria das tecnologias de ensino a distância, os
seus custos de distribuição e mesmo o alargamento da banda. Um exemplo simples
é uma tecnologia em embrião, onde vídeos no Youtube podem ser legendados em função
da voz e assim traduz do inglês para outras línguas como desejado pelo
expectador. Testem o vídeo acima, apertando o batão "CC" na base de
controles do vídeo. Esta é uma das típicas inovações disruptivas, que quando
inicia é de baixo desempenho, mas evolui progressivamente melhorando e supera
as tecnologias dos titulares, ou mesmo a tarefa de tradutor como o conhecemos
poderá ser substituída. Os fãs de ficção científica devem lembrar dos
sistemas de tradução simultânea nos filmes Jornada em Estrelas ou Guerra nas
Estrelas. Em 1997 comprei um sistema da IBM de comando e reconhecimento de voz,
o ViaVoice. O sistema falhava muito e tinha um dicionário limitado. Atualmente
celulares possuem sistemas cemelhantes e funcionam muito bem. Acredito que mais
10 anos teremos os sistemas de tradução muito eficientes e eficazes, como
também mecanismos de inteligência artificial que aprenderão rapidamente as
nuances, subjetividade, gírias e outras características idiomáticas, vencendo
as barreiras atuais da tradução por instrumentos digitais, assim teremos opções
muito interessantes de comunicação global viabilizando cada vez mais a educação
em massa e global online.
Hoje qualquer pessoa poderis se matricular
no curso online oferecido pelo MIT, "Circuits and Electronics"
6.002x (é um projeto piloto do EdX). O curso é dado pelo Professores
Anant Agarwal, com Gerald Sussman e Piotr Mitros, nos moldes semelhantes aos
dados no próprio MIT. O curso atraiu mais de 120.000 alunos, embora apenas
cerca de 10.000 ficaram no curso até o exame de metade do período.
O difícil de prever são as consequências
do projeto, mas que dá o que pensar e uma dor de cabeça para outros, vai.
Clayton Christensen e colaboradores em
suas duas últimas obras orientadas à educação, “Disrupting Class” e “Disrupting
College”, descrevem melhor o fenômeno e apontam este tipo de mudanças
que deverá acontecer com maior frequência no futuro. Resumindo o fenômeno é analisado
com as lentes da teoria da inovação
disruptiva ou de ruptura para outros. Este tipo de inovação quando surge são aqueles produtos ou serviços de baixo desempenho, porém com os anos ou mesmo meses avança
em desempenho e rompe com os modelos estabelecidos pelas empresas titulares, que naquele
momento os seus lideres acreditam que amanhã será um dia como ontem. Para enfrentar a inovação
disruptiva existem vários pontos onde se precisa ter cuidado. Existe a
necessidade de atender com novas proposta de valor as necessidades dos que
pertencem aos segmentos de não consumo ou aqueles menos exigentes.
Nos últimos 10 anos testemunhamos o
crescimento dos cursos de graduação, pós-graduação 100% Educação a Distância (EAD)
ou híbridos (EAD + Presencial). Pelos índices de satisfação de alunos o
modelo melhorou muito nos últimos anos do que era no final dos anos de 1990.
Mudanças de canal de distribuição (de satélite para web) que a tornou cada vez
mais capaz, simples, conveniente e estruturas de custos mais competitivas. A
evolução das tecnologias de suporte para esta forma de serviço de educação tem melhorado
sua acessibilidade. A teoria da inovação disruptiva foi uma voz de advertência
para os titulares. Muitas universidades têm investido em EAD e se percebe algumas
delas fracassando em seus empreendimentos, especialmente pelas falhas no modelo
de negócio. A simples adição de cursos EAD em modelos de negócio tipicamente
orientados para o formato presencial mostram os especialistas que foi a
principal falha estratégica e que afeta o desempenho operacional é claro como
um todo. Desconsiderando a necessidade de ter um modelo de negócio e estratégia
formatada pelas competências, segmentos de clientes prioritários, necessidades
e prioridades identificadas, capacidades, e outros atributos.
Uma tendência será termos universidades que
somente concentrarão seu modelo de negócio nos direitos de avaliar a
qualificação e certificar estudantes indivídais. Em outras palavras o modelo de negócio
essencialmente será de vender diplomas, prestígio e conhecimento específico,
escasso e de alto valor. Não mais terão o monopólio do ensino aprendizado como
o conhecemos. Um dos objetivos dos projetos que irão acontecer com
maior frequência é criar, organizar e armazenar conhecimento explícito (por
enquanto) será disponibilizado na Cloud e a maioria deste conteúdo será livre
e em vários idiomas. Acredito que a nova filantropia poderá contribuir
neste sentido de acelerar o processo de disrupção. São bilhões de dólares nas
mãos de profissionais e gente com visão que poderá financiar estas disrupções
como acontece atualmente nos projetos para criar a escola do século 21. Projeto
orientado para escolas públicas, gerando uma educação altamente diferenciada e
de qualidade formando o estudante para a realidade do século 21. Entre os novos
filantropos temos o casal Gates que também administra não somente a própria fortuna orientada, mas também os bilhões filantrópicos de W. Buffet. Outros bilionários estão sendo convencido a fazer o mesmo movimento de mudar coisas que o
setor público fracassou e com objetivos de criar verdadeiras mudanças na
qualidade da educação para todos.
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