A algum tempo venho reavaliando o discurso de que a inovação tecnológica não é mais suficiente para alcançar capacidade e vantagem competitiva. A afirmativa de especialistas de que as tecnologias hoje estão disponíveis no mercado em vários níveis e camadas, inicialmente a considerei como verdadeira. Mas depois fiquei intrigado pelo fato que algo não estava certo no contexto. Ao mesmo tempo para engrossar o caldo a declaração de vários acadêmicos e principalmente consultores que o que importa hoje são os modelos de negócio inovadores e em alguns casos o que realmente interessa é a propriedade intelectual, fizeram aumentar a minha curiosidade. Mesmo para países desenvolvidos essa história tinha alguns furos. Depois disto a primeira pista que identifiquei foi que estes argumentos são resquícios na luta pelo dinheiro na web. Lembram da bolha econômica gerada pelo fracasso das ponto com pela falta de modelos de negócio consistentes?. Observando padrões e cenários de mudança na primeira década do século 21, percebi que estamos entrando numa nova era perturbadora, onde uma corrida tecnológica de sobrevivência se formata. Inicialmente sinalizada pelas novidades da ciência em geral (computação, mecânica quantica, biociência, neurociência, nanociência, etc) que configuram um quadro de difícil previsão porém de grandes proporções na forma de inovações focadas em resolver problemas de difícil solução. Sabendo também que muitas das tecnologias atuais alcançaram ou estão alcançando seus limites de performance (ver curva S).
Hoje mesmo algumas tecnologias se acomodam na crista da onda tornando a inovação tecnológica relevante para todos os que se preocupam com o futuro. Novas ondas Schumpeterianas surgem montando um cenário de destruição criativa que reconfigurará o quadro geral dos mercados. O domínio de tecnologias de rompimento e a consecutiva inovação tecnológica são de extrema relevância para a sobrevivência e sustentabilidade dos próximos anos. Ao mesmo tempo são vitais para se manter no jogo competitivo global, considerando o quadro como hoje o conhecemos e abrupta reconfiguração dentro do espectro geopolítico que gradualmente muda pelas forças gravitacionais criadas pelo avanço do grupo dos BRICs, especialmente. Dentro deste cenário um fator que está puxando esta nova onda é a premissa de que inovar tecnologicamente no campo da energia é a prioridade número um. Esta corrida criará um novo ecossistema de inovação é para qualquer que seja o país é por demais relevante. O objetivo é criar ou descobrir novas fontes energéticas renováveis e robustas e isso não é trivial mesmo que vejamos todos os dias avanços neste setor. Associado a esta, outro desafio é desenvolver tecnologias considerando o contexto sócio-econômico-ambiental dentro do prisma da sustentabilidade, e isto adiciona à tarefa uma quantidade de variáveis de relacionamento de alta complexidade. Igualmente precisamos ter em consideração bilhões de pessoas consumindo como o fazem a insanas taxas de crescimento e ainda puxadas pela fome por mais riqueza dos mercados.
Neste jogo temos o envolvimento dos principais centros de pesquisa do planeta agindo nas fronteiras da ciência e tecnologia de cada país que identificou a oportunidade. Como sempre os Estados Unidos querendo ocupar a cabeça na corrida está iniciando o processo com programas de incentivo à inovação, mesmo atrasado dos demais estão se apoiando no melhor que América pode oferecer a sua cultura de inovação junto com algumas das principais e melhores escolas de ensino e pesquisa do mundo. Os chineses não ficarão atrás mesmo que suas estratégias sejam outras, estão com o dinheiro e uma grande vontade de serem a bola da vez. O Brasil neste contexto é colocado como um exemplo para todos os países em alguns campos e ao mesmo tempo realmente abençoado em recursos. Possuir 16% da água doce do planeta é de dar inveja e isso é uma vantagem consistente.
No Charlie Rose Show a entrevista com a Presidente do MIT Susan Hockfield, suas declarações me sinalizaram que algumas coisas não estavam certas no meu modelo mental (no programa semanal de fevereiro de 2008). Durante a entrevista Susan Hockfield comentou que no início de seu mandato fez uma pesquisa com a comunidade acadêmica e lideres das diversas linhas de pesquisas da instituição, questionando sobre os desafios e oportunidades para o futuro do MIT. O resultado da pesquisa foi que a maioria apontou a questão energética como principal tema para os próximos 20 anos.
A despeito de tudo isto vemos que a agenda dos líderes de governos está mais alinhada a encontrar saídas de sobrevivência na gradual falta de petróleo do que desenvolver soluções pensando no presente e futuro. Lamentavelmente, o esforço é pequeno e não se concentram prioritariamente ao que deveria ser principal objetivo, que seria tornar o petróleo irrelevante. Para tornar a era do petróleo parte do passado devemos acelerar seu fim focando os melhores recursos, junto com isto precisamos de metas concretas de encerrar com a era da energia suja. O último tsunami no Japão mostra claramente os riscos destes tipos de energia. A maioria dos países que dependem delas devem estar repensando, sensibilizados eles estão.
Sei que é uma meta audaciosa e precisará de um esforço descomunal, visto que temos relativamente poucas alternativas. Mas precisamos ter em mente que esta tarefa exige novas abordagens para encontrar a solução. A minha percepção é que aqueles que colaborarem interdisciplinar e interinstitucionalmente poderão conseguir melhores resultados na sua tarefa de mudar o mundo. Não será por causa de uma unica pessoa, equipe ou organização, senão o resultado de um esforço de colaboração global sem precedentes que poderá trazer melhores resultados de forma mais produtiva pensando no sistema como um todo. Mas como o homem é moldado também pelo seu espírito de desconfiança, teremos que conviver com diversos clusters de inovação e vários comportamentos neste processo de mudança.
Temos a responsabilidade ou melhor devemos ter a decência de mudar o quadro. Muitas vezes somos conduzidos a pensar que tudo gira em torno das grandes quantias de petrodólares e seus interesses. A teoria da conspiração está presente em todos os países e paralisa qualquer iniciativa. Mesmo com o poder de eleger desqualificados na presidência de um país como os E.U., precisamos de uma atitude resoluta de mudar esta situação. Primeiro, é necessário mudar nosso modelo mental de continuidade que é uma das barreiras a vencer em toda a pirâmide social, com isto novos comportamentos e atitudes poderão florescer. Não podemos dar o braço a torcer, de outra maneira será tarde demais ou podemos agüentar até que os efeitos extremos e as crises nos dobrem e assim somente decidir mudar forçados pelas circunstâncias. O que me levaram a repensar e reformulou a minha esperança foi o comentário de Prahalad,
“para sairmos da idade da pedra não foi necessário que primeiro terminássemos com as pedras !!”.
Quando as inovações tecnologias de novas fontes de energia surjam e estas virarem negócios globais vamos enfrentar mudanças radicais nos mercados e o poder criado deverá reformular o mundo como o conhecemos. Quando isto acontecer veremos que as estruturas de poder na geografia global mudarão e é claro o quadro pode se transformar radicalmente para o bem de alguns ou para o mal do resto. A abordagem da inovação aberta pode ser uma das estratégias para melhorar nosso desempenho. Concluo afirmando que a inovação tecnológica poderá ser suficiente para alcançar capacidade e vantagem competitiva usando velhos modelos de negócio.
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